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Na ciclofaixa do medo, fim de tarde sem lei


Pedalei outro dia ali pelos lados das avenidas Calógeras e Presidente Wilson, no Centro do Rio, num fim de tarde/começo de noite. Fiquei horrorizado com o tamanho do desrespeito de motociclistas e motoristas (de carros de passeio, táxi e ônibus) ao espaço das bicicletas. A bandalha é ampla, geral e irrestrita na hora de pico, aquela do trânsito insano na volta para casa. Pela primeira vez na vida tive medo de pedalar numa ciclofaixa. Precisei optar pela calçada duas vezes: num dos trechos, era impossível seguir na ciclofaixa, ela estava bloqueada por um táxi e um ônibus; em outro, tive a certeza de que seria atropelado por alguma das muitas motos que usavam o local proibido, em velocidade.

Sem fiscalização alguma, motoqueiros e motoristas escolhem a ciclofaixa como atalho para sair do engarrafamento e conquistar uns meros 50 ou 100 metros de vantagem sobre seus “concorrentes”. Na batalha sem mediadores, os ônibus também invadem, chegando a fechar a passagem das bicicletas.

Teve um instante bizarro: tive que descer da bicicleta e empurrá-la na posição vertical, com só uma roda no chão, para conseguir passar. Mais adiante, seguia pedalando quando dei de cara com outra moto na ciclofaixa, em sentido contrário. O motoqueiro não diminuiu a velocidade, eu é que saí para o lado, pegando a calçada, para evitar o pior. Um pouco na frente, outro motociclista fez o mesmo: continuou na ciclofaixa mesmo após ter me visto. Este, pelo menos, meio sem graça, arriscou um “desculpa aí”.

Insisti. Alguns metros depois, eram um ônibus e outro motoqueiro. O das duas rodas nem consegui ver direito, passou rápido. O motorista do frescão azul (número de ordem D87875) estava parado no engarrafamento, invadindo a ciclofaixa. Parei a bicicleta e olhei para ele. Só olhei, não gasto minha energia discutindo ou brigando, porque sei que nunca termina bem e não vale a pena. Apenas tento olhar no olho, é o que faço, para ao menos constranger a figura.

Constrangi. Só que não muito. Ele meu deu uma olhada de culpa, que durou uns dois ou três segundos. Depois deve ter pensado algo como “ah, não enche”. E voltou a baixar os olhos para fazer o que estava mais interessante naquele trânsito parado e absurdamente cheio de irregularidades: continuou digitando em seu celular.

Num país em que a maioria tem tão pouco ou quase nada, e onde se vê com frequência o bem comum ser usado apenas em benefício do individual, é quase automático o sujeito querer levar vantagem de algum jeito. Mesmo que seja mínima, por alguns segundos, em alguns metros. Talvez assim ele vá à forra, pelo menos na lógica particular do cara. Já que educação, respeito ao outro e sentimento de coletividade não existem mesmo, então que se dane. “Vou adiantar o meu lado, o outro que se vire”, eis o pensamento dominante.

E o trânsito, ah, o trânsito... como resume bem esse mais-perde-do-que-ganha da vida, né?

Triste Brasil. Será que um dia a gente consegue mudar isso?

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