A gente quer pedalar (viver!) em paz no Rio
Aconteceu de novo. Ciclistas que treinam na Floresta da Tijuca foram assaltados na manhã desta quinta-feira num dos pontos turísticos mais conhecidos do Rio de Janeiro e local de treinamento de atletas. Dois homens, armados com pistola e pedaço de pau, abordaram pelo menos três pessoas que pedalavam perto da Mesa do Imperador, local conhecido pela visão privilegiada que oferece das belezas naturais da cidade, no trecho entre o Alto da Boavista, na Zona Norte, e o Horto, na Zona Sul.
“Volta, volta, volta, tem um cara com arma na mão assaltando”, relatou uma ciclista sobre o que ouviu de um colega que pedalava um pouco mais à frente e tinha presenciado a violência. Ela então fez meia volta e avisou ao grupo de trás, que subia no sentido Horto - Mesa do Imperador. A ciclista contou também que os bandidos assaltaram em seguida um taxista e fugiram muito antes de a polícia aparecer.
O Alto da Boavista, um dos points mais agradáveis para a prática do ciclismo na cidade, tem sofrido, como diversos outros bairros do Rio, com a falta de segurança. Os relatos de roubos são frequentes, e muita gente hoje já pensa duas vezes antes de montar na bicicleta e subir pelas estradas da Floresta da Tijuca, com medo.
Pedalar é, em si, um ato de liberdade. A sensação de bem estar para corpo e mente é uma das maiores recompensas de montar numa bicicleta. Especialmente ali, em meio à Mata Atlântica. O prazer transborda. Mas todo esse prazer tem sido bombardeado pelo terror. Uma impotência e um pavor com que a gente que mora no Rio acaba sendo obrigado a lidar diariamente, e praticamente sem trégua. Não há lugar que escape dessa tensão, fruto de uma sociedade partida, numa cidade abandonada, capital de um estado falido e sem segurança, sem paz, sem governo.
Dá vontade de desistir, mas a gente não pode. Seria aceitar que o mal prevaleceu. E o mal não pode prevalecer. O que fazer? Sei lá. Resistir, talvez? Isso, resistir. Vamos continuar pedalando, caminhando, vivendo, ocupando a cidade. O espaço é nosso, não deles, os bandidos. Chamo de bandidos os que nos assaltam com armas e os que nos roubam de paletó e gravata.
Eles não hão de prevalecer para sempre. Não mesmo.