Pequena reflexão sobre (i) mobilidade urbana numa cidade bagunçada
Esse flagrante aí eu fiz a duas quadras do hotel em Copacabana onde tinha acabado de acontecer o BiciRio, Fórum Internacional sobre mobilidade (saiba mais aqui sobre como foi). No debate falou-se exatamente sobre a escassez de planejamento e de ações que devolvam a cidade ao cidadão. Vejam se não é um retrato fiel da desordem e do caos urbano que reinam no Rio de Janeiro e dificultam o simples deslocamento de quem deveria ter o espaço público para si, o pedestre.
Numa calçada já espremida na Rua Siqueira Campos, um táxi estacionado irregularmente e camelôs roubam o lugar de quem tenta caminhar. Resta aos pedestres, coitados, dividir o asfalto com carros e ônibus.
ESTUPIDEZ NO ABANDONO
Há uns dez dias o arquiteto e urbanista Washington Fajardo comentou, em sua coluna no jornal O Globo, que "não pode haver maior estupidez urbana do que não fazer a gestão do espaço público". Intitulado "Ensaio sobre a Cegueira" (título também de um clássico do escritor português José Saramago), o texto acusa o prefeito Marcelo Crivella de abandonar a governança do espaço público da cidade e estimular a informalidade. Fajardo comenta ainda que o governante municipal está "cego para a riqueza que é o espaço urbano do Rio" (leia aqui o texto na íntegra).
O ponto principal dessa infelicidade toda, segundo o colunista, é a destruição do bem público promovida por um desgoverno. Diz Fajardo: "Cada centímetro de calçada é uma estrutura que levamos séculos para pagar e organizar". O urbanista explica que uma cidade que cuida bem de seu espaço urbano pode desenvolver melhor suas aptidões (gastronomia, artes, turismo, serviços) e gerar empregos de verdade. " Ela (a calçada) é um meio que ajuda a distribuir riquezas, se for bem desenhada e cuidada, atuando como sistema ambiental que beneficia a todos", ensina.
Pena que faltem educação, fiscalização, organização. Na cena tipicamente carioca acima falta, sobretudo, respeito ao cidadão.
Alô, prefeitura! Participar de debates sobre mobilidade pode até ser bonito, mas sem fazer o mínimo que se pede do dever de casa o bonito fica feio, muito feio.