Após queda, mercado se recupera e apresenta alta de 50% em relação ao mesmo período do ano passado
O começo da pandemia do coronavírus do Brasil foi fortemente sentido também pelo mercado brasileiro de bicicletas, com queda de até 70% no faturamento das lojas no setor. No último mês de maio, porém, o Brasil vem seguindo uma tendência mundial de alta das bicicletas: levantamento realizado pela Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas) apontou que houve um aumento médio de 50% no número de vendas no último mês de maio, em comparação com o mesmo período no ano passado.
Os dados, fruto de uma pesquisa com 35 associados da entidade, entre lojistas, fabricantes e importadores, são reflexo de uma alteração na dinâmica de vida da população, por conta do impacto da quarentena e de tudo o que vem dela.
Acompanhando uma tendência em todo mundo, na retomada, aos poucos, das atividades, as pessoas acabam procurando um meio de transporte seguro o suficiente para manter o distanciamento e as práticas indicadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
“O que se pode concluir deste levantamento é que a pandemia e o processo de saída dela estão oportunizando, ao mercado de bicicletas, acesso a um público novo, que está buscando uma nova forma de se locomover. Tanto para fugir das aglomerações no transporte público quanto do alto custo e do estresse de se deslocar de carro”, comenta Giancarlo Clini, presidente da Aliança Bike.
Considerando que entre 15 de março e 15 de abril deste ano as lojas tiveram uma queda média entre 50 e 70% no faturamento, este novo levantamento aponta que o mercado brasileiro de bicicletas está em recuperação – o aumento atual da demanda, inclusive, já superou as perdas do início da quarentena. A pesquisa sobre os impactos iniciais nas lojas de bicicletas pode ser vista clicando aqui.
“É um momento diferente e até melhor do que Black Friday e Natal, porque tem uma relação de conscientização. Considero como um novo momento para o mercado, as pessoas estão com sede de bicicleta. Tenho loja há 28 anos e nunca trabalhei de uma maneira tão intensa como estamos trabalhando: da hora que abre até a loja fechar, é telefone tocando o tempo todo e pessoas querendo comprar”, comenta Marcos Nascimento, ex-atleta profissional e sócio da Bike North, localizada na zona norte de São Paulo-SP.
Bicicletas mais procuradas
De acordo com o levantamento realizado pela Aliança Bike, os modelos mais procurados, e que motivaram este crescimento de 50% nas vendas, são das chamadas bicicletas de entrada. São bikes entre R$ 800 e R$ 3.000 e que servem para deslocamentos urbano, para uso na cidade. Nesta pesquisa, foram consideradas apenas vendas nas lojas de bicicleta físicas e em e-commerces, já que os grandes magazines estavam fechados no momento do levantamento.
As bicicletas com valores superiores aos R$ 3.000 não apresentaram aumento na demanda. O levantamento também contempla as bicicletas elétricas, que mantêm tendência similar às bicicletas tradicionais: o aumento foi de 60% em relação a bikes de até R$ 3.000, mas nos modelos acima desta faixa ainda não foi identificado um aumento de demanda ou nas vendas.
Como manter o estímulo à bicicleta?
O levantamento com empresas do setor traz um ótimo dado indicativo para quem acredita na bicicleta como meio de transporte mais seguro, sustentável e eficaz para diminuir o trânsito nas cidades e o estresse nas pessoas. Entretanto, é necessário que o poder público entenda e leve a sério esta questão – como já acontece em diversas partes do mundo.
Com o objetivo de estimular o mercado e o uso de bicicletas no Brasil – e , consequentemente, permitir que estes novos ciclistas continuem pedalando – a Aliança Bike criou um conjunto de 10 propostas executáveis. Elas abordam desde a ampliação da malha cicloviária nas cidades até a redução da carga tributária, passando pelo desenvolvimento do cicloturismo e a ampliação de direitos para quem optar pela bicicleta como meio de transporte.
Veja abaixo quais são estas 10 propostas:
1. Ampliar rede de ciclovias, ciclofaixas, bicicletas compartilhadas e bicicletários permanentes nas cidades brasileiras, além de permitir maior acesso de bicicletas ao transporte coletivo (intermodalidade). 2. Reduzir a carga tributária sobre as bicicletas, para que a população tenha acesso a bicicletas mais baratas e de maior qualidade. 3. Criar uma rede extra de ciclovias e ciclofaixas temporárias nas cidades brasileiras, para auxiliar os trabalhadores de atividades essenciais durante a pandemia e no processo de saída dela. 4. Criar uma linha de crédito atrativa, junto aos bancos públicos, para financiamento de aquisição de bicicletas e bicicletas elétricas pela população brasileira. 5. Distribuir um voucher de R$ 100 para custear especificamente a revisão e o conserto de bicicletas usadas pela população. 6. Alterar legislação trabalhista para obter pleno reconhecimento da bicicleta como meio de transporte por trabalhadoras e trabalhadores, incluindo a manutenção do vale-transporte pelo uso de bicicleta. 7. Criar uma política nacional de ciclologística para estimular e dar segurança às entregas feitas em bicicletas em todo o país - desde sempre consideradas um serviço essencial. 8. Criar políticas públicas (nacionais e regionais) para desenvolvimento do cicloturismo, como forma de aquecer o turismo no país com segurança e distribuição de renda. 9. Ofertar mais áreas para o ciclismo esportivo e para o lazer em todo o país. 10. Criar um programa nacional de fortalecimento da economia verde, estimulando setores produtivos que contribuem ativamente para o combate às mudanças climáticas.
Criada em 2003 e formalizada em 2009, a Aliança Bike (Associação Brasileira do Setor de Bicicletas) é uma associação que tem como missão fortalecer a economia da bicicleta e o seu uso por brasileiras e brasileiros, atuando em diversas frentes de trabalho para promover o uso de bicicletas como transporte, esporte e lazer.
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