Poucos dias após as Olimpíadas Paris-2024, Ulan volta ao Brasil, vence o campeonato nacional de MTB XCO e projeta resto da temporada
Ciclista baiano que representou o Brasil em Paris comenta sobre o seu momento, fala da emoção de disputar sua primeira Olimpíada, da pressão interna que tinha em vencer o Campeonato Brasileiro e muito mais (confira entrevista abaixo)
Os últimos 10 dias foram intensos para o ciclista Ulan Galinski. Atleta da Equipe Caloi / Henrique Avancini Racing, Ulan realizou dois sonhos de criança profissionalmente: disputou uma Olimpíada e sagrou-se campeão brasileiro.
Depois de representar o Brasil em Paris e ficar na 21ª colocação na prova do Cross Country Olímpico (XCO), Ulan regressou rapidamente ao País para disputar o Campeonato Brasileiro. Na sexta, ele foi vice-campeão na prova do Short Track (XCC). Já no domingo venceu o XCO, principal prova do MTB brasileiro.
Os outros dois companheiros de Ulan na Equipe Caloi / Henrique Avancini Racing também brilharam no Campeonato Brasileiro. Sabrina Oliveira foi vice-campeã no XCO feminino Sub-23, enquanto Cainã Oliveira terceiro colocado no XCO masculino Sub-23.
Confira abaixo entrevista com o atleta Ulan Galinski, onde ele comentou sobre a emoção de competir em Paris, o sonho de ganhar o XCO Brasileiro, suas metas para o restante da temporada e a saudade da Bahia.
1 - Qual é a sensação de vencer pela primeira vez o Campeonato Brasileiro de Cross Country Olímpico (XCO), que era um sonho seu?
"É uma sensação realmente muito especial, é a concretização de mais um sonho. São dez anos me dedicando a esse esporte, buscando evoluir, me entregando diariamente, passando por momentos difíceis, de dúvidas, mas sempre mantendo a esperança e trabalhando duro. E agora eu consigo conquistar esse primeiro título na categoria elite no Cross Country Olímpico, que é a principal modalidade do Mountain Bike. Ao mesmo tempo, é uma sensação de muito alívio. Como eu sou atualmente o primeiro brasileiro no ranking mundial, fui o atleta que representou o Brasil nas Olimpíadas, existia uma pressão e expectativa muito grande para que eu fosse campeão. Eu era o favorito, então consegui conquistar esse título. Ao mesmo tempo que é uma sensação muito especial e diferente, é uma sensação de muito alívio também".
2 - Fale um pouco como foi a corrida do último domingo, sua estratégia para se sair vencedor?
"O Campeonato Brasileiro é uma prova que é muito importante para os principais atletas do Brasil. É um título que te dá o direito de vestir a bandeira do Brasil no peito, então eu tinha consciência que muitos iam em busca desse título. A prova foi bem disputada e eu sabia que apesar do favoritismo, não poderia subestimar ninguém. Sabia que tinha grandes atletas que poderiam ser campeões, então busquei fazer uma prova sem erros, analisar nas duas, três primeiras voltas os principais atletas que estariam na disputa, quem estava mais confiante, tentar usar um pouco deles ao meu favor, conseguir me manter bem posicionado, analisar onde eu poderia fazer diferença... O ritmo estava bem alto, aguentei os momentos de dificuldade onde eu estava sofrendo, e eu sabia que eu precisaria me impor, então na quarta volta eu consegui assumir a ponta e ataquei. Foi um ataque bem assertivo, pois eu consegui abrir um pequeno gap e ali foi o momento de me impor e aumentar um pouco essa vantagem. Quando eu cheguei na faixa dos 20, 25 segundos, eu sabia que eu poderia administrar, tentei então fazer uma prova sem erros, me poupando nas partes técnicas para não vir a ter nenhum problema mecânico e dando tudo de mim nas partes físicas, e isso acabou me ajudando a chegar na linha de chegada sendo campeão brasileiro".
3 - Como você avalia sua performance geral no Campeonato Brasileiro? Você na sexta foi vice na prova de Short Track (XCC) e no domingo campeão no XCO. Como avalia sua participação, mesmo com o cansaço dos últimos dias?
"Foi uma boa performance, fiquei realmente feliz pela forma que eu encarei principalmente mentalmente esse desafio. É muito difícil você viver um pico de emoção muito grande igual foi nas Olimpíadas e já viajar, ficar dois dias no avião -, e encarar outro grande desafio, que é a disputa de um título brasileiro. Então eu não tive tempo para absorver tudo que eu vivi nas Olimpíadas e já tive que virar a chave para disputar outro grande título. Fiquei feliz pela forma que eu reagi e encarei esse desafio mentalmente. Foi algo que não foi fácil. No Short Track, eu ainda estava um pouco cansado, mas de certa forma essa prova acabou me ajudando a me colocar no lugar para disputar o título no XCO. Quando eu falo me colocar no lugar, eu me refiro a me colocar no lugar mentalmente e fisicamente. Acabou que ativou o meu corpo, me deixou em estado de alerta, ativou o meu lado competitivo e isso me deixou pronto para o XCO. No XCO, sinceramente, apesar de todo o cansaço da viagem, eu já estava me sentindo bem forte fisicamente. Me senti em um dia bem inspirado e consegui fazer uma prova muito boa, tanto fisicamente como mentalmente. Acredito que fui bem assertivo na minha estratégia, na minha leitura dos adversários, de pelotão e no meu posicionamento. E isso, sem dúvidas, foi fundamental para poder conquistar esse título".
4 - Ulan, sua última semana foi intensa. Disputa das Olimpíadas, duas provas do Brasileiro. Comente como foi competir essas provas e suas sensações?
"Foram realmente duas semanas muito intensas. Hoje eu pude perceber isso quando acordei, eu estava totalmente esgotado, tanto fisicamente como mentalmente. Então, eu estou tentando ainda, na verdade, absorver tudo que eu senti, tudo que eu vivi durante essas duas últimas semanas, mas foi sem dúvida algo muito especial e marcante na minha vida. Algo que quando eu olhar pra trás eu vou sorrir, vai me trazer boas lembranças, boas lições e algo que sem dúvida vai ser muito importante pro meu crescimento. A sensação é uma sensação de realização muito grande, eu diria. É muito bonito quando você sonha com algo, tem um objetivo, trabalha durante anos pra conseguir conquistar esse objetivo e você consegue viver esse momento aproveitando cada momento".
5 - O Ulan de hoje é o mesmo Ulan de antes das Olimpíadas? Não a simplicidade da pessoa, mas a experiência de vida, os sonhos realizados, os aprendizados...?
"Disputar uma Olimpíada é, sem dúvida, uma experiência marcante na vida de uma pessoa, não só dos atletas, mas de todas as pessoas que se envolvem nesse evento. Eu diria que foi a experiência mais rica que eu já tive na minha vida até então. Foram muitas reflexões, muitas emoções, muitas lições. E é algo que faz crescer dentro da gente, que só quem vive consegue explicar. Pra mim, que sou um atleta de alto rendimento, viver aquela atmosfera olímpica, ao lado dos melhores atletas do mundo, poder entender um pouco e presenciar a mentalidade, o comportamento dos principais atletas do mundo, de todas as modalidades, é algo que me inspirou bastante, criou um fogo muito grande dentro do meu coração de continuar buscando me desenvolver, continuar buscando evoluir e continuar trabalhando pelos meus sonhos. Foi uma realização muito grande poder viver algo que eu sempre sonhei e isso sem dúvida alguma me motiva a continuar nesse caminho. É realmente um fogo que cresce dentro de mim para continuar tentando buscar o topo do mundo que é onde eu quero chegar".
6 - Para finalizar, o Ulan nessa última semana realizou dois sonhos: disputou uma Olimpíada e foi campeão brasileiro no XCO. E agora, quais os objetivos para o restante da temporada? Quais as metas a serem alcançadas esse ano?
"Então, o próximo passo agora é descansar (risos). Após a realização desses dois grandes sonhos eu preciso realmente dar um pequeno reset, ter três dias de descanso, absorver e entender tudo que aconteceu e deixar meu corpo e minha mente recuperar antes de começar a minha preparação para o próximo grande objetivo, e meu último grande objetivo da temporada, que é o Campeonato Mundial que acontece agora no fim de agosto. Eu estarei nas disputas do Short Track e do XCO e meu objetivo é superar os resultados que eu tive nos anos anteriores. Eu quero estar no top 20, sonhando com o top 10. Depois disso eu vou ter mais três provas UCI's no Brasil, para finalizar o ano, e finalmente voltarei para a Bahia para poder descansar e aproveitar a família".
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